Eu poderia começar este texto com a clássica frase que aparece em 99% dos conteúdos que falam sobre verminose em ovinos, que é a seguinte:
“A verminose é o problema sanitário que mais acomete os ovinos.”
Mas quero fazer diferente e te mostrar o porque da verminose ser tão presente e cruel com os produtores de ovinos. Este conteúdo vai te mostrar que a partir de ações básicas e rotineiras é possível controlar os efeitos dessa enfermidade, evoluir na ovinocultura e descobrir que a criação de ovinos tem desafios muitos maiores do que a verminose.
É preciso enxergar essa infestação por vermes como sendo oportunista do cenário sanitário do animal, ou seja, ela fica na espreita só aguardando o momento de queda na imunidade animal para vir com força máxima. Isso acontece porque dificilmente, o rebanho fica livre 100% dos vermes que sempre são encontrados nas pastagens e/ou nos animais, mesmo que em pequenas quantidades.
Ter o conhecimento sobre as causas que podem levar o animal a alto grau de verminose é o que possibilita agir com habilidade e eficiência, ou seja, com profissionalismo.
Na prática, podemos imaginar a seguinte situação:
A propriedade é formada por apriscos suspensos como sendo a instalação para abrigo dos animais e, essa opção foi escolhida porque o proprietário não quer ter problema com a verminose porque entende que a principal causa é o contato direto dos animais com as fezes, durante o período em que ficam estabuladas. O investimento neste tipo de instalação pode ser 10 vezes maior quando comparado com as baias direto no chão, sem elevação. Porém, mesmo com esse investimento o rebanho ainda apresenta severo ataque dos vermes, sabe porque?
Neste cenário hipotético, o rebanho seguia o esquema nutricional onde ficavam soltos no pasto durante o dia e, ao retornar para a baia, recebiam concentrado (ração) direto no cocho com uma quantidade fixa por cabeça. O plantel não era acompanhado por manejos rotineiros para avaliar condição sanitária e nutricional porque não havia tronco de manejo e os colaboradores, além da falta de treinamento, se esforçavam demais para conter os animais quando era necessário.
O motivo pelo qual os animais continuavam com verminose, mesmo em aprisco ripado, é que aos animais estavam com baixa condição corporal e sendo soltos sempre na mesma pastagem. Isso favorece a verminose em dois pontos, um pela menor resistência individual do animal por estar abaixo da condição ideal e também por retornarem sempre ao mesmo pasto o que possibilita que o ciclo da verminose nos ovinos se complete e a população parasitária aumente cada vez mais.
Preferi criar este caso como exemplo porque a partir dele fica simples de entender que o controle da verminose é um conjunto de ações que precisam ser realizadas em paralelo. Existem manejos básicos que, quando executados da maneira correta e com conhecimento, criam uma barreira eficiente no controle da população de vermes, principalmente nos animais.
Cito 3 manejos que irão mudar a realidade do seu plantel:
Acompanhar rotineiramente os animais quanto ao grau FAMACHA é a ferramenta de melhor custo benefício porque tem zero custo de implementação e fácil de aprender. Este índice tem alta correlação com a infestação por vermes e possibilita o produtor acompanhar o animal de forma que as alterações nos valores de FAMACHA indiquem início de verminose, onde o tratamento com vermífugo é mais eficiente pela menor carga parasitária.
Para quem ainda não sabe, o E.C.C. significa Escore de Condição Corporal e indica o grau de nutrição que o animal se encontra, ou seja, se está mais próximo do magro ou do gordo. Também tem alto custo benefício de implementação por se tratar de análise feita diretamente no animal e sem necessidade de nenhum instrumento específico, apenas da sensibilidade do tato do avaliador (que se consegue com treinamento).
Quando o animal começa a perder condição corporal, a tendência é que sua imunidade também seja influenciada negativamente e a verminose oportunista ataca neste momento. Por isso o acompanhamento do animal possibilita entender se o ele vem numa crescente ou decrescente escala de E.C.C. e ajustar a nutrição antes que seja afetado (o que pode ser comprovado pelo aumento no grau FAMACHA).
Já falei algumas vezes aqui que o conhecimento é a base para conseguir tomar ações que gerem resultados positivos e que erros repetidos não sejam o padrão da propriedade. Dito isso, a vermifugação estratégica leva em conta o entendimento da situação atual do animal e antecipar a aplicação do produto para ajudar o animal em momentos mais desafiadores dentro do ciclo de produção. Por exemplo, quando a matriz estiver próxima de parir, por volta de 120 dias de gestação, é fato que entrará em déficit nutricional negativo e a possibilidade da verminose “ganhar” a disputa com o sistema imunológico, é grande.
Sabendo disso, realizar a vermifugação na matriz neste momento vai reduzir consideravelmente a população parasitária dentro dela e permitir que, com o aporte nutricional necessário, consiga seguir com a gestação até o fim e parir com o máximo de vigor possível, sem se “preocupar” com a verminose.
Portanto, o combate a verminose em ovinos precisa ser encarado de maneira diferente da que a maioria dos produtores enxerga, que é o “vermífugo salvador da pátria”. Sinto muito, ele não existe!
Organizar manejos e ações baseadas em conhecimento e análise dos dados coletados a campo é o caminho e deixar a verminose lá pra baixo no ranking dos desafios da ovinocultura.
E isso depende diretamente de você, amigo(a) ovinocultor(a)!
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